14 de nov. de 2012

A culpada do nada.

Lilian queria algo novo. Queria experimentar coisas novas, queria mudar a sua rotina. Ela estava numa fase em que comer cereal com leite a tarde era novidade. Nunca encontrava a resposta de como mudar. Ela estava realmente entediada. Lilian estava sempre ouvindo as mesmas músicas, vestindo as mesmas coisas, com o mesmo penteado de sempre. Ela se queixava de tudo, de como as coisas pra ela não davam certo e se queixava até da sua vida com dias iguais, mesmo ela sendo a culpada disso tudo. Ela se sentia num dvd travado. Passara anos nesse dvd, a história nunca mudava. Nunca. Lilian se sentia mais desgastada a cada minuto, se sentia uma verdadeira idosa. Queria mudar os seus hábitos, mas nunca conseguia. Acordava tarde, nunca produzia, nunca nada. Esse nada te matava.

Até que em mais um dia normal, um amigo de Lilian a mandou uma música. Esse dia estava com a mesma cara de sempre, a história estava prestes a se repetir. Lilian abriu o que o amigo havia mandado sem nenhum tipo de emoção, sem esperanças, afinal, que diferença uma música faz? Enquanto o vídeo carregava Lilian não pensava em nada, não sentia nada, não fazia nada. Ela deu play e aquela sensação de nada foi sumindo. Lilian estava se sentindo embalada pela música, ela não sentia aquela sensação a tempos! A música fazia Lilian se sentir jovem, se sentir renovada. Lilian se pegou repetindo aquela música inúmeras vezes, ouvia de novo e de novo. Até que aquele mesmo cansaço foi voltando. Ela estava sempre repetindo. Repetia a música, repetia o penteado, o modo de escrever, o modo de ser. Era a mesma Lilian desde que entrou para o fundamental. Aquela música que o seu amigo mandara a uns tempos atrás e que a deixava feliz, animada, agora estava no baú.

Agora ela havia entendido que o problema era ela mesma. Nunca fazia nada de novo, por mais que o "novo" seja uma coisa boba como ouvir uma música. Lilian resolveu se levantar da frente do computador e finalmente tomar uma atitude. Foi até sua cama e revirou a sua mochila atrás de uns trocados. Foi até o mercado da sua rua e sem pensar em nada pegou três potes de água oxigenada. "Vou mudar essa mesma coisa de sempre". Em passos rápidos Lilian voltou, sem mesmo saber se as pessoas iam gostar ou não, descoloriu todo o seu cabelo com uma expressão séria em seu rosto. Lilian resolveu ouvir novas músicas, falar com novas pessoas, ler novas histórias, resolveu sonhar mais, querer mais, inovar mais. Até as suas roupas de sempre mudaram. Lilian estava customizando as coisas do seu jeito, fazendo as coisas a sua volta ficarem do jeito que ela sempre desejara. Mas dessa vez estava tomando cuidado para não repetir as mesmas customizações, para não repetir a mesma cor de cabelo, para não repetir as mesmas músicas.